sábado, 3 de abril de 2021

7 Outras possibilidades de colorir o fazer do residente: as expectativas da Residência Pedagógica...

 

Olá, tudo bem?

Estou de volta pra continuarmos nossa conversa sobre as possibilidades da Residência Pedagógica em tempos de Covid 19. Como gosto de fazer, inicio meu texto com uma epígrafe. Desta fez excerto do poema A Força do Professor de Braúlio Bessa.


Um arquiteto de sonhos

Engenheiro do futuro

Um motorista da vida

dirigindo no escuro

Um plantador de esperança

plantando em cada criança

um adulto sonhador

e esse cordel foi escrito

por que ainda acredito

na força do professor.

(Bráulio Bessa – 4ª estrofe do poema A Força do Professor[1])

 

 Na epígrafe deste tópico Braúlio Bessa nos convida a pensar nessa nova geografia de ser pedagogo que é um pouco arquiteto, engenheiro, motorista, agricultor, cordelista... e, para além disso, é ainda é o alfabetizador, aquele que inicia os pequenos e pequenas no mundo da escola. Para além disso, com o passar do tempo, o campo de ação do pedagogo foi sendo ampliado e isso se deu porque houveram alterações na educação e na própria formação do pedagogo o que fez com que os campos de atuação desse profissional não ficasse mais restrito a ações desenvolvidas nas escolas (como docência, orientação e supervisão escolar).

Nóvoa (1995), vai escrever sobre as possibilidades trazidas pela formação inicial e continuada que, aliada às políticas educacionais, tem permeado e promovido uma nova configuração de identidade do pedagogo que amplia suas possibilidades de atuação, possibilitando a ele que atue de forma ainda mais significativa e transformadora em diferentes espaços: empresas, instituições escolares e não-escolares, entre outras.

Para o autor é importante investir na qualificação das práticas pedagógicas em espaços não-escolares que se desenham como campo no qual os profissionais precisam estar aptos, ter conhecimento e clareza de atuação da mesma forma que o tem em relação a sua inserção em sala de aula.

Importante destacar que as práticas pedagógicas precisam estar em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia (Parecer CNE/CP nº 05/2005), presentes na Resolução CNE/CP nº 01/2006 (institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, Licenciatura) e o disposto nos documentos informados na sequencia: Parecer CNE/CP nº 03/2006 (que reexamina o Parecer CNE/CP nº5/2005); Parecer CNE/CEB nº 12/201; Parecer CE/CEB nº 6/2019; e Parecer CNE/CES nº 671/219.

Destaco partes dos documentos que sublinham os espaços não-escolares e esses novos papeis dos pedagogos. No Parecer CNE/CP nº5/2005, item Finalidade do Curso de Pedagogia, página 7 há a explicitação de que a formação em Pedagogia inicia-se na Graduação onde os estudantes são desafiados a articular conhecimentos do campo com práticas profissionais e de pesquisa. E que tais práticas

 

[...] compreendem tanto o exercício da docência como o de diferentes funções do trabalho pedagógico em escolas, o planejamento, a coordenação, a avaliação de práticas educativas em espaços não-escolares, a realização de pesquisas que apóiem essas práticas. Nesta perspectiva, a consolidação da formação iniciada terá lugar no exercício da profissão que não pode prescindir da qualificação continuada. (BRASIL, 2005, p. 7).

 

No item Princípios, do mesmo documento, página 7, consta a informação de que a formação em pedagogia fundamenta-se no trabalho pedagógico realizado em espaços escolares e não-escolares que tem à docência como base. Na sequência do documento é definido o perfil do Licenciado em Pedagogia que deve estar apto a: - trabalhar, em espaços escolares e não-escolares, na promoção da aprendizagem de sujeitos em diferentes fases do desenvolvimento humano, em diversos níveis e modalidades do processo educativo (BRASIL, 2005, p. 8). Mas nenhum documento orientador previu a Pandemia da COVID-19 e/ou propôs possibilidades de ação da escola de forma tão intensa como temos hoje, fora dos espaços escolares.

Ainda assim, de forma resumida podemos dizer ao final das análises sobre os documentos normativos que regem a formação do pedagogo (citados neste texto) que espera-se que ao final de sua formação na Graduação o profissional licenciado em Pedagogia desenvolva suas atividades com qualidade e competência tanto na escola, quanto fora dela. Daí a possibilidade de retomarmos a epígrafe deste tópico e os versos finais do poeta-cordelista (Bráulio Bessa) que ainda acredita na força do professor, assim como eu e, espero, você também.

Em 2021, ao realizar a avaliação sobre o potencial da Residência Pedagógica para a minha formação profissional me sinto atravessada por dois sentimentos. O primeiro é da ordem do desejo de experienciar de forma mais concreta a realidade do ‘chão de escola’, da rotina do professor desde o recebimento dos estudantes até o final do turno de estudos. Essa vivência é algo que me faz falta. E que não foi suprida em meus estágios anteriores. Fui direto da academia para a formação de professores no Ensino Superior, atuando na formação docente nos níveis de extensão, graduação e especialização ao longo de mais de 15 anos. Falo sobre a prática da escola ainda de uma perspectiva que é mais de pesquisadora do que de professora do ensino básico e isso tem, numa perspectiva sistêmica, perturbado minha forma de pensar a própria práxis.

Não quero com isso desqualificar meu discurso, mas lembro bem da primeira pergunta feita pela professora regente da turma 51 (da escola na qual desenvolvo minha prática), que hoje considero grande amiga, quando fui apresentada a ela em outubro de 2020: “- Quanto tempo tens de chão de escola? De sala de aula no Ensino Fundamental?”.

Este é o avatar da professora Ângela que criei para ela (no Mirror). Inserimos as figuras dos nossos avatares em muitas remessas que elaboramos para os estudantes. Mas está já é outra história. Prometo voltar a ela em uma postagem mais adiante no Blog.

Retomando: naquele momento não importava para ela minha formação, minha primeira graduação (licenciatura), meu Mestrado e/ou Doutorado em Educação... ela queria saber o que eu de fato, sabia da realidade da escola. De forma direta e franca respondi: “- Quase não tenho prática além das horas de estágios obrigatórios e, justamente por isso, me inscrevi para a Residência Pedagógica entendendo-a como oportunidade de aprendizagem e aperfeiçoamento do estágio curricular supervisionado nos cursos de licenciatura. Acredito que a imersão na escola de educação básica nesta modalidade amplia minhas possibilidades de atuação inserindo regência e intervenção pedagógica e que o teu olhar e a tua experiência em sala de aula podem me ajudar a ser uma professora melhor, qualificando a minha prática. Estou aqui como discente, não como pesquisadora. Quero aprender com você!” E aqui estou, desde outubro de 2020, trabalhando com a professora Ângela de uma forma orgânica e sistêmica. Aprendendo com ela que, até então, em 25 anos de escola, nunca tinha aceitado uma estagiária em suas turmas.


A Residência Pedagógica (RP) tem se constituído em uma oportunidade de formação que tem ampliado minha visão da escola, não ficando restrita as atividades e ou carga horária de um estágio obrigatório. Estou conhecendo as múltiplas dimensões da rotina escolar na medida em que fui me inserindo nas reuniões pedagógicas e de planejamento não apenas da turma 51/2020, mas da escola como um todo.

O segundo sentimento que atravessa a minha percepção sobre a prática da RP tem relação com o momento que o Brasil e o mundo vêm passando. Os efeitos da COVID 19 nas práticas sociais nas diferentes instâncias (social, econômica, da saúde, etc.) e os potenciais e, ao mesmo tempo, devastadores impactos dela na educação das crianças e jovens nos anos de 2020 e 2021... Egoisticamente esperava estar na escola diariamente, convivendo com os estudantes e com a professora regente. Vivenciando a rotina do planejar, executar e avaliar cada Plano de Aula elaborado. O desejo da experiência concreta, palpável, do ‘chão da escola’ que é a sala de aula não se fez possível em 2020. Por questões de segurança as escolas estão fechadas desde março para os estudantes e precisaram REinventar as práticas pedagógicas sem aviso prévio.

Professores foram impelidos a conhecer uma realidade impensada e, de uma hora para outra, suas práticas precisaram ser REvisitadas e REajustadas. A escola de 2020 já não era mais a mesma na qual eu queria me inserir e conhecer. Novos desafios se colocaram para a direção, coordenação pedagógica e os diferentes atores sociais que ocupavam a escola até 2019. Não havia plano B. Tudo teve que ser adaptado e aprendido – de uma nova forma. Outros modos de ensinar e de aprender emergiram da situação de calamidade trazida pela Pandemia da COVID 19.

Não tive a oportunidade de experienciar a rotina da escola em 2020 – aquela rotina presencial, mas descobri que as experiências que eu tinha na formação de professores, principalmente, no ensino a distância poderiam ajudar a escola, a professora e a turma na qual eu estava me inserindo como Residente, ampliando ainda mais as possibilidades de formação trazidas pela RP. Essa é uma história em construção. O fato é que o paradoxo inicial entre o desejo de estar presencialmente na escola e a impossibilidade de fazê-lo por causa da pandemia se transformou. Hoje, quando escrevo esse relatório penso que a educação que eu queria conhecer mais profundamente não será mais a mesma e que nós, professores e estudantes, também nãos seremos mais os mesmos quando as aulas presenciais retornarem.

Esse quase um ano e meio, de desassossegos e perturbações, vai trazer impactos e mudanças para a educação que talvez, inconscientemente, estivéssemos desejando sem saber. A crise da educação já estava posta. A pergunta: educar para quê? já fazia parte do imaginário docente. A própria formação de professores nas instituições de ensino superior precisará ser revista...

Os professores que retornarem à escola, quando a pandemia permitir, assim como os estudantes, vão retornar para uma escola diferente... Em pouco mais de 15 meses a educação teve que evoluir mais do que em 50 anos. Nem tudo o que esse momento triste trouxe foi ruim, resta saber o que vamos fazer enquanto população e enquanto escola no futuro. Não tenho respostas. Seria muito ingênuo e prepotente achar que sim. Tenho dúvidas que me movem enquanto residente, estagiária, professora e pesquisadora. Os desafios estão aí. As soluções precisarão ser construídas de forma solidária. Mas como fazer isso?

Veja, novamente termino uma postagem com uma pergunta. Uma inquietação. Um desassossego. No próximo post avanço na direção de uma possível resposta. Vem comigo?!

Abraço virtual apertado
e até a próxima,
Dani


[1] Disponível em: https://www.pensador.com/poesia_professor/ Acesso em: 12 abr 2021.

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