Olá, tudo bem?
Estou de volta pra continuarmos nossa conversa sobre as possibilidades da Residência Pedagógica em tempos de Covid 19. Como gosto de fazer, inicio meu texto com uma epígrafe. Desta fez excerto do poema A Força do Professor de Braúlio Bessa.
Um arquiteto de sonhos
Engenheiro do futuro
Um motorista da vida
dirigindo no escuro
Um plantador de esperança
plantando em cada criança
um adulto sonhador
e esse cordel foi escrito
por que ainda acredito
na força do professor.
(Bráulio Bessa –
4ª estrofe do poema A Força do Professor[1])
Nóvoa
(1995), vai escrever sobre as possibilidades trazidas pela formação inicial e
continuada que, aliada às políticas educacionais, tem permeado e promovido uma
nova configuração de identidade do pedagogo que amplia suas possibilidades de
atuação, possibilitando a ele que atue de forma ainda mais significativa e
transformadora em diferentes espaços: empresas, instituições escolares e
não-escolares, entre outras.
Para
o autor é importante investir na qualificação das práticas pedagógicas em
espaços não-escolares que se desenham como campo no qual os profissionais
precisam estar aptos, ter conhecimento e clareza de atuação da mesma forma que
o tem em relação a sua inserção em sala de aula.
Importante
destacar que as práticas pedagógicas precisam estar em consonância com as
Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia (Parecer CNE/CP nº 05/2005), presentes na Resolução CNE/CP nº 01/2006 (institui as Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, Licenciatura) e
o disposto nos documentos informados na sequencia: Parecer CNE/CP nº 03/2006 (que reexamina o Parecer CNE/CP
nº5/2005); Parecer CNE/CEB nº 12/201; Parecer CE/CEB nº 6/2019; e Parecer CNE/CES nº 671/219.
Destaco
partes dos documentos que sublinham os espaços não-escolares e esses novos papeis
dos pedagogos. No Parecer CNE/CP nº5/2005, item Finalidade do Curso de
Pedagogia, página 7 há a explicitação de que a formação em Pedagogia inicia-se
na Graduação onde os estudantes são desafiados a articular conhecimentos do
campo com práticas profissionais e de pesquisa. E que tais práticas
[...]
compreendem tanto o exercício da docência como o de diferentes funções do
trabalho pedagógico em escolas, o planejamento, a coordenação, a avaliação de práticas educativas em
espaços não-escolares, a realização de pesquisas que apóiem essas práticas.
Nesta perspectiva, a consolidação da formação iniciada terá lugar no exercício
da profissão que não pode prescindir da qualificação continuada. (BRASIL, 2005,
p. 7).
No
item Princípios, do mesmo documento,
página 7, consta a informação de que a formação em pedagogia fundamenta-se no
trabalho pedagógico realizado em espaços escolares e não-escolares que tem à
docência como base. Na sequência do documento é definido o perfil do Licenciado em Pedagogia que deve estar
apto a: - trabalhar, em espaços escolares e não-escolares, na promoção da
aprendizagem de sujeitos em diferentes fases do desenvolvimento humano, em
diversos níveis e modalidades do processo educativo (BRASIL, 2005, p. 8). Mas
nenhum documento orientador previu a Pandemia da COVID-19 e/ou propôs
possibilidades de ação da escola de forma tão intensa como temos hoje, fora dos
espaços escolares.
Ainda
assim, de forma resumida podemos dizer ao final das análises sobre os
documentos normativos que regem a formação do pedagogo (citados neste texto)
que espera-se que ao final de sua formação na Graduação o profissional
licenciado em Pedagogia desenvolva suas atividades com qualidade e competência
tanto na escola, quanto fora dela. Daí a possibilidade de retomarmos a epígrafe
deste tópico e os versos finais do poeta-cordelista (Bráulio Bessa) que ainda
acredita na força do professor, assim como eu e, espero, você também.
Em 2021, ao realizar a avaliação sobre o potencial da
Residência Pedagógica para a minha formação profissional me sinto atravessada
por dois sentimentos. O primeiro é da ordem do desejo de experienciar de forma
mais concreta a realidade do ‘chão de escola’, da rotina do professor desde o
recebimento dos estudantes até o final do turno de estudos. Essa vivência é
algo que me faz falta. E que não foi suprida em meus estágios anteriores. Fui
direto da academia para a formação de professores no Ensino Superior, atuando na
formação docente nos níveis de extensão, graduação e especialização ao longo de
mais de 15 anos. Falo sobre a prática da escola ainda de uma perspectiva que é
mais de pesquisadora do que de professora do ensino básico e isso tem, numa
perspectiva sistêmica, perturbado minha forma de pensar a própria práxis.
Não quero com isso desqualificar meu discurso, mas lembro bem da primeira pergunta feita pela professora regente da turma 51 (da escola na qual desenvolvo minha prática), que hoje considero grande amiga, quando fui apresentada a ela em outubro de 2020: “- Quanto tempo tens de chão de escola? De sala de aula no Ensino Fundamental?”.
Retomando: naquele momento não importava para ela minha formação, minha
primeira graduação (licenciatura), meu Mestrado e/ou Doutorado em Educação...
ela queria saber o que eu de fato, sabia da realidade da escola. De forma
direta e franca respondi: “- Quase não tenho prática além das horas de
estágios obrigatórios e, justamente por isso, me inscrevi para a Residência
Pedagógica entendendo-a como oportunidade de aprendizagem e aperfeiçoamento do
estágio curricular supervisionado nos cursos de licenciatura. Acredito que a
imersão na escola de educação básica nesta modalidade amplia minhas
possibilidades de atuação inserindo regência e intervenção pedagógica e que o
teu olhar e a tua experiência em sala de aula podem me ajudar a ser uma
professora melhor, qualificando a minha prática. Estou aqui como discente, não
como pesquisadora. Quero aprender com você!” E aqui estou, desde outubro de
2020, trabalhando com a professora Ângela de uma forma orgânica e sistêmica.
Aprendendo com ela que, até então, em 25 anos de escola, nunca tinha aceitado
uma estagiária em suas turmas.
A Residência Pedagógica (RP) tem se constituído em
uma oportunidade de formação que tem ampliado minha visão da escola, não
ficando restrita as atividades e ou carga horária de um estágio obrigatório.
Estou conhecendo as múltiplas dimensões da rotina escolar na medida em que fui
me inserindo nas reuniões pedagógicas e de planejamento não apenas da turma
51/2020, mas da escola como um todo.
O segundo sentimento que atravessa a minha percepção
sobre a prática da RP tem relação com o momento que o Brasil e o mundo vêm
passando. Os efeitos da COVID 19 nas práticas sociais nas diferentes instâncias
(social, econômica, da saúde, etc.) e os potenciais e, ao mesmo tempo, devastadores
impactos
dela na educação das crianças e jovens nos anos de 2020 e 2021...
Egoisticamente esperava estar na escola diariamente, convivendo com os
estudantes e com a professora regente. Vivenciando a rotina do planejar,
executar e avaliar cada Plano de Aula elaborado. O desejo da experiência
concreta, palpável, do ‘chão da escola’ que é a sala de aula não se fez
possível em 2020. Por questões de segurança as escolas estão fechadas desde
março para os estudantes e precisaram REinventar as práticas pedagógicas sem
aviso prévio.
Professores foram impelidos a conhecer uma realidade
impensada e, de uma hora para outra, suas práticas precisaram ser REvisitadas e
REajustadas. A escola de 2020 já não era mais a mesma na qual eu queria me
inserir e conhecer. Novos desafios se colocaram para a direção, coordenação
pedagógica e os diferentes atores sociais que ocupavam a escola até 2019. Não
havia plano B. Tudo teve que ser adaptado e aprendido – de uma nova forma.
Outros modos de ensinar e de aprender emergiram da situação de calamidade
trazida pela Pandemia da COVID 19.
Não tive a oportunidade de experienciar a rotina da
escola em 2020 – aquela rotina presencial, mas descobri que as experiências que
eu tinha na formação de professores, principalmente, no ensino a distância
poderiam ajudar a escola, a professora e a turma na qual eu estava me inserindo
como Residente, ampliando ainda mais as possibilidades de formação trazidas
pela RP. Essa é uma história em construção. O fato é que o paradoxo inicial
entre o desejo de estar presencialmente na escola e a impossibilidade de
fazê-lo por causa da pandemia se transformou. Hoje, quando escrevo esse
relatório penso que a educação que eu queria conhecer mais profundamente não
será mais a mesma e que nós, professores e estudantes, também nãos seremos mais
os mesmos quando as aulas presenciais retornarem.
Esse quase um ano e meio, de desassossegos e perturbações,
vai trazer impactos e mudanças para a educação que talvez, inconscientemente,
estivéssemos desejando sem saber. A crise da educação já estava posta. A
pergunta: educar para quê? já fazia parte do imaginário docente. A própria
formação de professores nas instituições de ensino superior precisará ser
revista...
Os professores que retornarem à escola, quando a
pandemia permitir, assim como os estudantes, vão retornar para uma escola
diferente... Em pouco mais de 15 meses a educação teve que evoluir mais do que
em 50 anos. Nem tudo o que esse momento triste trouxe foi ruim, resta saber o
que vamos fazer enquanto população e enquanto escola no futuro. Não tenho
respostas. Seria muito ingênuo e prepotente achar que sim. Tenho dúvidas que me
movem enquanto residente, estagiária, professora e pesquisadora. Os desafios
estão aí. As soluções precisarão ser construídas de forma solidária. Mas como fazer isso?
Veja, novamente termino uma postagem com uma pergunta. Uma inquietação. Um desassossego. No próximo post avanço na direção de uma possível resposta. Vem comigo?!
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