quarta-feira, 3 de março de 2021

6 Redesenhando as possibilidades do Educar em Tempos de Covid -19: atravessamentos e possibilidades para a Residência Pedagógica

     Olá! Tudo bem?

    Estou de volta para conversar com você sobre algumas questões que se colocaram como desafios para as práticas dos residentes (da Residência Pedagógica) desde 2020 por causa da pandemia. Questões que exigiram uma reorganização e, consequentemente, uma reinvenção da escola e da educação. 

    Questões que impactaram e continuam impactando nas práticas de todos os atores da escola (direção, coordenação pedagógica, professores, funcionários, estudantes, famílias, profissionais do transporte e da alimentação, entre outros) em diferentes dimensões. Mas do imprevisto, do inesperado podem emergir alternativas que não apenas modifiquem o rumo, mas também, o qualifiquem.    

O conhecimento emerge apenas através da invenção e da reinvenção, através da inquietante, impaciente, contínua e esperançosa investigação que os seres humanos buscam no mundo, com o mundo e uns com os outros.

Paulo Freire (Pedagogia do Oprimido)

 

 

A epígrafe que escolhi como ponto de partida desta postagem intitulada REDESENHANDO AS POSSIBILIDADES DO EDUCAR EM TEMPOS DE COVID-19 – ATRAVESSAMENTOS E POSSIBILIDADES DA RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA, é um excerto do texto de Paulo Freire extraído do livro Pedagogia do Oprimido (1968), e nos provoca a pensar sobre as possibilidades de produção do conhecimento que estão, invariavelmente, sendo tecidas em um tempo/espaço atravessado por fatores externos à escola – enquanto espaço de educar legitimado pelos discursos legais – que faz emergir a necessidade de inventar, reinventar, contínua e esperançosamente, outras possibilidades de formação capazes de contribuir com aquilo que os seres humanos buscam “[...] no mundo, com o mundo e uns com os outros” (FREIRE, 1968). (Grifos meus)

Freire escreveu ao longo de sua vida que a educação pode ocorrer em qualquer espaço e que ela não precisava (e nem precisa) ficar restrita as paredes de uma sala de aula, mesmo na escola. Vale o destaque de que o educador nunca escreveu que também deveria ou sequer, poderia, prescindir dela (da escola). Nesse sentido, entender a educação para além dos espaços escolares, como uma teoria do conhecimento posta em prática sob diferentes formas, normas, correntes teórico-epistemológicas é importante para aquilo que chamo de REDEsenho das possibilidades de educar, principalmente, em tempos de COVID-19.

Impossível deixar de fora deste texto a contextualização do momento ímpar que o Brasil e o mundo (em 2020 e 2021) tem enfrentado por causa da COVID-19 que impactou (e segue impactando) de forma esmagadora as relações humanas exigindo o distanciamento e, em alguns momentos, o isolamento social. E isso se reflete em alterações nas relações de trabalho, nas atividades culturais e sociais, na economia e, de modo perturbador, “[...] nos leva a questionar nosso modo de vida, nossas reais necessidades mascaradas nas alienações da vida cotidiana” (MORIN, 19 de abril, 2020)[1]. A Pandemia causada pela disseminação do vírus da COVID-19 está fazendo com que os homens repensem sua forma de ver, ser e estar no mundo e isso se reflete na produção do conhecimento e no educar. Hoje, entendo que estamos valorizando, com muito mais intensidade, coisas do cotidiano que tratávamos com normalidade como os abraços, os sorrisos, o contato físico...

Gosto de trazer para o debate o conceito de ‘perturbação’ sob o qual Morin (2005) se debruçou durante muito tempo, porque é a perturbação dos princípios clássicos (poderíamos escrever: conhecidos) que explicam uma realidade que faz com que sejamos provocados a investigar e fazer novas descobertas (científicas ou não), através de uma revolução que conduz a uma (ou mais) mudanças de paradigmas (enquanto conjunto de princípios de associação/exclusão/inclusão que comandam o pensamento e a teoria). O que, consequentemente, apresenta (e/ou provoca a pensar) em uma ou mais mudanças na visão de mundo.

Aqui me atrevo a fazer conversar Freire e Morin porque ambos nos provocam a pensar que: não ignoramos tudo, não sabemos tudo e que aprendemos sempre. Para além disso, os autores nos convocam a sair do imobilismo (da nossa zona de conforto) de forma inquietante, impaciente, contínua – antes mesmo da Pandemia - e reconhecem na perturbação (ainda que Freire não tenha usado exatamente esta palavra), a possibilidade da construção de mudança. Freire escreveu

 

Ai daqueles que pararem com sua capacidade de sonhar, de invejar sua coragem de anunciar e denunciar. Ai daqueles que, em lugar de visitar de vez em quando o amanhã pelo profundo engajamento com o hoje, com o aqui e o agora, se atrelarem a um passado de exploração e de rotina. (Paulo Freire). (Grifos meus)

 

A acomodação, ao contrário da perturbação, nos coloca em risco porque deixamos de duvidar e de questionar o que fazemos e o que vivemos/experienciamos, e pode, como nos apresenta Freire no excerto acima, ao repetir no texto a expressão “Aí daqueles”, nos induzir a uma situação de subserviência, exploração e rotina que nos impede de questionar nosso modo de vida e nossas reais necessidades que podem permanecer mascaradas nas alienações da vida cotidiana.

Ao fazer dialogar Morin e Freire nesta parte introdutória do texto, vou tecendo as primeiras linhas de uma intencionalidade atravessada pela Pandemia que influenciou e modificou minha própria proposta de ação na Residência Pedagógica. Para que possamos avançar no texto, penso ser preciso explicar algumas coisas. Começo escrevendo sobre as perturbações da COVID-19 em relação as escolas (que estão fechadas desde março de 2020) e a educação. Vale dizer que o retorno gradual as atividades presenciais está sendo anunciado para a qualquer momento, mesmo que não existam ainda (ou tenham sido publicados) indicadores confiáveis e/ou protocolos referendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de que a Pandemia está em declínio e/ou controlada. Nos países em que tais práticas foram retomadas estão sendo informados aumentos de casos significativos de contágio não apenas de crianças em idade escolar mas, também, de profissionais da educação e população em geral.

Para estas reflexões iniciais observei o disposto nos documentos vigentes no País em relação à proposta de práticas presenciais nas escolas e, também, aqueles referentes aos estágios obrigatórios para os cursos de licenciatura da Universidade de Caxias do Sul (UCS), cito o Protocolo de Contingências para Atividades Acadêmicas devido à Pandeia da Covid-19 – período letivo2020/04[2], item 6 e a Instrução Normativa da PRAC 09/2020[3].

Dentre os documentos vigentes destaco a Portaria nº 343, de 17 de março de 2020 que dispõe sobre a substituição das aulas presenciais por meios digitais enquanto durar a pandemia do novo Coronavírus – COVID-19. A Nota de Esclarecimento do Conselho Nacional de Educação (CNE) publicada no dia 18 de março do corrente ano que elenca uma série de medidas de segurança e prevenção à propagação do COVID-19 e impacta diretamente nas atividades escolares. O Parecer nº 5/2020, de 28 de abril, que tem como foco a reorganização do Calendário Escolar e da possibilidade de cômputo de atividades não presenciais para fins de cumprimento de carga horária mínima, em razão da Pandemia do COVID-19. O Parecer nº 11/2020, de 07 de julho, que traz orientações para a realização de aulas e atividades pedagógicas presenciais e não presenciais no contexto da Pandemia. Bem como, a Lei nº 14.040, promulgada no dia 18 de agosto do corrente, que estabelece normas educacionais excepcionais a serem adotadas durante o Estado de Calamidade Pública reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020, e altera a Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009.

Entendo que a situação causada pela Pandemia do COVID-19, há de ter efeitos e impactos nas práticas dos residentes quando provocados a refletir sobre a atual realidade escolar, as possibilidades de práticas e os espaços não-escolares de educação e que essa inesperada mudança de rumo precisa ser assimilada nas nossas práticas. Mas o que isso significa? Significa a adoção de outras metodologias e práticas que sejam capazes de articular o atual momento e a necessidade de realização de atividades que respeitem os protocolos de segurança e cuidado com o outro.

Muitas perguntas nos perturbam ainda. Uma delas sinaliza algumas possibilidades de reflexão sobre a prática na residência pedagógica: O que podemos fazer?! Pretendo dar continuidade a esse pensamento na próxima postagem. Me acompanha?!

E antes de mais nada: a pandemia não acabou então, se possível: fique

Abraços,

Dani

[1] Texto publicado originalmente no Jornal ‘Le Monde’, em 19 de abril de 2020. Disponível em: https://www.lemonde.fr/idees/article/2020/04/19/edgar-morin-la-crise-due-au-coronavirus-devrait-ouvrir-nos-esprits-depuis-longtemps-confines-sur-l-immediat_6037066_3232.html Acesso em: 12 abr 2021.

[2] Disponível em: https://ucsvirtual.ucs.br/informacoes/25125/arquivo/27923/ Acesso em: 20 abr 2021.

[3] Disponível em: https://ucsvirtual.ucs.br/informacoes/25191/arquivo/28043/ Acesso em: 20 abr 2021.

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