terça-feira, 14 de dezembro de 2021

16 Uma escola que virou cinco... desafios de ser 'sujeito' na escola (nas escolas)durante a pandemia!

Olá pessoal, tudo bem com vocês?

Na última vez que escrevi aqui no Blog abordei uma parte da realidade das escolas no Brasil em plena pandemia. Escrevi sobre uma turma que havia virado três e os comentários que foram sendo disseminados nas mídias sociais sobre o trabalho docente. Claro que utilizei criatividade e  ironia em um texto que ambicionava a ampliação do debate, mas que não me omiti de colocar nele minhas impressões e opiniões, bem como, de utilizar argumentos capazes de suportá-las. No entanto, muitas coisas ainda precisavam ser ditas e penso ser este o momento ideal para fazê-lo. 

No texto de hoje abordo mais uma dimensão desta (e de muitas outras turmas) que viraram três e os desafios que foram sendo colocados para as escolas (infelizmente, desafios que continuam sendo colocados por causa da continuidade da pandemia). 

Inicio perguntando sobre as (im)possibilidades de realizarmos práticas efetivas na escola, com diferentes turmas e realidades sociais, em tempos de tanta instabilidade e insegurança (na saúde e na educação, por exemplo), colocadas como desafios pela COVID-19 de forma empírica. A Charge de Cícero, sobre os medos e incertezas na escola da 'pandemia' nos faz pensar sobre isso...

Fonte: http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=80&evento=10 Acesso em: 12 ago 2021.

O fato é que não sabemos tudo sobre a COVID e o medo tem permeado as relações entre os diferentes sujeitos da escola. Ou seja, um 'simples' espirro pode se tornar algo muito ameaçador!

Meu avatar, atualizado! ;)

As vezes me pego perguntando: Como será que os estudantes poderiam narrar suas experiências escolares nos anos de 2020 e 2021? Como eles as descreveriam? O que foi aprendido e o que não foi? Quais serão os impactos da escola para estudantes das redes públicas e privadas? Serão estes impactos iguais ou apenas aumentarão ainda mais as diferenças entre estudantes de escolas públicas e privadas da educação básica? Será que eles (e nós também) temos a dimensão dos efeitos, impactos e lacunas que este ano e meio de 'escola diferente' teve para os alunos das diferentes redes?

Observem que são muitas as questões que se colocam. O que significa que temos ainda muito sobre o que conversar. Ao longo das postagens subsequentes a esta, pretendo ir abordando cada uma destas possibilidades de reflexão e conto com a ajuda de vocês (através dos comentários) para definir os próximos 'alvos' (temas).


Para não perder o foco acho necessário ajustar as lentes e fazer algumas escolhas. E começo me questionando sobre essa escola de 2020 e 2021 que se tornou múltiplas. Será que a escola de março de 2020 era a mesma de dezembro de 2019? Como almejar uma ida à escola que não é mais a mesma de antes da pandemia e que precisou se reinventar? Em que medida os atravessamentos das cinco escolas da pandemia (eu as chamo assim) ainda permitem a observação de traços que remontam ao pastoreio e ao coronelismo frente ao anúncio das possibilidades de uma educação pública cívico militar? Tudo isso num país que afirma em sua Carta Magna, entre outros aspectos, que a educação deve ser laica?

A cada parágrafo que escrevo outras dúvidas me atravessam e as vivências enquanto residente pedagógica, estagiária, professora e pesquisadora da área da Educação a mais de 15 anos, que não podem ser indissociadas, me fazem ter apenas uma certeza: não sei bem como será a educação e a escola pós pandemia.



Como provoquei vocês no título desta postagem, a pensarem em uma escola que virou cinco na pandemia, acho importante explicar quais são, para mim, as cinco escolas da pandemia. Alguns destaques: essa é a minha visão sobre os acontecimentos, não esgota e nem se anuncia como verdade absoluta sobre a realidade observada. São as minhas lentes. Meu olhar e as possibilidades trazidas pelas minhas experiências que compartilho com vocês que me acompanham no Blog. 

As cinco escolas da pandemia são (em minha opinião):

1) a Escola do Ensino Remoto Emergencial (todas as escolas fechadas e os professores e diretores precisaram pensar em alternativas para fazer chegar aos estudantes os materiais de forma impressa e/ou digital – março de 2020). Não tivemos tempo para nos preparar para ela. Tudo foi sendo pensado concomitantemente e ela nasceu travestida da 'excepcionalidade' do "Estado de Exceção". Erros e acertos emergiram a partir das práticas propostas. Nesta escola fizemos o que foi possível fazer. Os/as professores/as precisaram se apropriar de novas ferramentas e tecnologias 'a toque de caixa'. Muitas práticas e equipamentos eram tradicionais e  quase obsoletos. As dificuldades de pensar a escola assíncrona e não presencial exigiram reflexões sobre o sucesso e o fracasso da escola antes da pandemia. Os pais e responsáveis legais pelas crianças assumem o papel de 'mediadores da escola' e precisam auxiliar os estudantes em suas casas. Muitas vezes, conciliando outras funções e rotinas. 

Essa escola segue o que foi determinado pelo Parecer nº 5/2020 do CNE/CP;

2) a Escola em Rede (de agosto a dezembro de 2020). Mantém-se as escolas fechadas e as alternativas de comunicação ficaram majoritariamente vinculadas às redes sociais como Facebook e Whatsapp porque os estados e municípios ainda não tinham disponibilizado ferramentas tecnológicas e formações/capacitações específicas para as demandas pós pandemia para professores, escolas e estudantes. Esperava-se com ansiedade o acesso aos logins em redes e o acesso ao Google Classroom. As dificuldades de acesso as tecnologias ampliaram as diferenças entre estudantes e escolas das redes públicas e privadas de ensino. As desigualdades tornam-se evidentes. Busca-se manter o interesse dos estudantes e evitar a evasão escolar. Pais e responsáveis legais começam a se cansar da rotina de 'mediar a educação'. Os professores e demais atores da escola já tem um pouco mais de contato e domínio das tecnologias. Já estão mais acostumados com as novas demandas da Escola em Rede. Alguns/mas, paulatinamente, estão se transformando em professores/as tubers (em analogia aos Youtubers, influenciadores etc.). Aulas mais interativas são propostas. Encontros síncronos e atividades a distância se mesclam ao longo das semanas e remessas de estudos (termo utilizado na escola na qual desenvolvi minha residência pedagógica). Investimentos em mesas, cadeiras, internet e computadores é feito (pelos/as profissionais) para que possam produzir e entregar mais qualidade nos materiais disponibilizados para os estudantes em casa e na escola). Nota-se certo adoecimento docente (professores/as com estresse e muito cansados se afastam da escola). O mesmo se observa em relação aos estudantes: distanciamento, apatia, depressão passam a ser tema dos debates e das reuniões virtuais. Uma pergunta não cala: o que será destes estudantes quando a 'escola de 2019' retornar? Outra se cola nela: É possível uma escola igual a de 2019 depois que a pandemia acabar?

Essa escola segue o que foi determinado pelo Parecer nº 5/2020 do CNE/CP, além dos seguintes documentos: 
 
  • Parecer CNE/CP nº 6/2020, aprovado em 19 de maio de 2020 - Guarda religiosa do sábado na pandemia da COVID-19. 
  • Parecer CNE/CP nº 9/2020, aprovado em 8 de junho de 2020 - Reexame do Parecer CNE/CP nº 5/2020, que tratou da reorganização do Calendário Escolar e da possibilidade de cômputo de atividades não presenciais para fins de cumprimento da carga horária mínima anual, em razão da Pandemia da COVID-19.
  • Parecer CNE/CP nº 10/2020, aprovado em 16 de junho de 2020 - Prorrogação do prazo a que se refere o artigo 60 do Decreto nº 9.235, de 15 de dezembro de 2017, para implantação de instituições credenciadas e de cursos autorizados, em razão das circunstâncias restritivas decorrentes da pandemia da COVID-19.
  • Parecer CNE/CP nº 11/2020, aprovado em 7 de julho de 2020 - Orientações Educacionais para a Realização de Aulas e Atividades Pedagógicas Presenciais e Não Presenciais no contexto da Pandemia.
  • Parecer CNE/CES nº 498/2020, aprovado em 6 de agosto de 2020 – Prorrogação do prazo de implantação das novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs).
  • Parecer CNE/CP nº 15/2020, aprovado em 6 de outubro de 2020 - Diretrizes Nacionais para a implementação dos dispositivos da Lei nº 14.040, de 18 de agosto de 2020, que estabelece normas educacionais excepcionais a serem adotadas durante o estado de calamidade pública reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020.
  • Parecer CNE/CP nº 16/2020, aprovado em 9 de outubro de 2020 - Reexame do item 8 (orientações para o atendimento ao público da educação especial) do Parecer CNE/CP nº 11, de 7 de julho de 2020, que trata de Orientações Educacionais para a Realização de Aulas e Atividades Pedagógicas Presenciais e Não Presenciais no contexto da pandemia.
  • Parecer CNE/CP nº 19/2020, aprovado em 8 de dezembro de 2020 - Reexame do Parecer CNE/CP nº 15, de 6 de outubro de 2020, que tratou das Diretrizes Nacionais para a implementação dos dispositivos da Lei nº 14.040, de 18 de agosto de 2020, que estabelece normas educacionais excepcionais a serem adotadas durante o estado de calamidade pública reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020.
  • Resolução CNE/CP nº 2, de 10 de dezembro de 2020 - Institui Diretrizes Nacionais orientadoras para a implementação dos dispositivos da Lei nº 14.040, de 18 de agosto de 2020, que estabelece normas educacionais excepcionais a serem adotadas pelos sistemas de ensino, instituições e redes escolares, públicas, privadas, comunitárias e confessionais, durante o estado de calamidade reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020;

3) a Escola Híbrida (de fevereiro de 2021 até setembro de 2021), que propôs possibilidades de retorno ao ensino presencial de forma escalonada e/ou o não retorno presencial – uma turma foi dividida em três: turma A e B (alternando uma semana em casa e uma na escola) e Turma C (aqueles que não regressaram ao ensino presencial. O Classroom se tornou a principal ferramenta de comunicação entre escola, estudantes e famílias. Mas se mantém a comunicação por intermédio dos grupos de Whatsapp. Professores/as não aguentam mais os atravessamentos de tempos por causa das tecnologias. As atividades da escola não se restringem aos horários de trabalho. Em casa, sábados, domingos e feriados pais e estudantes colocam demandas sobre eles. Não são respeitados os momentos de descanso. Não é mais o tempo da 'excepcionalidade' do primeiro ano da pandemia, as ações já foram pensadas, mas a implementação de uma escola que se transforma em três (da mesma forma que as turmas) não teve suas dimensões e impactos ainda analisados. Alguns estudantes evadiram. Outros, estão cada dia mais calados. Pergunta-se: O que estão aprendendo nestes últimos anos? O que estamos ensinando? Qual o papel da escola? Pais e responsáveis legais, além de outros atores da escola como profissionais do transporte escolar pressionam para o retorno as atividades presenciais. Motivos das solicitações: econômicos e sociais.

Esta escola segue os mesmos documentos normativos da Escola em Rede; 

4) a Escola 'Quase' Presencial (ou seria uma tentativa de retorno a escola de 2019?), na qual o retorno presencial escalonado (entre setembro e novembro) não apenas de partes da turma, mas da escola como um todo (com alternância de horários de chegada, saída, alimentação e ainda sem recreio) é a alternativa. Tenta-se voltar a 'escola de 2019', adotando-se rígidos protocolos sanitários para garantir a segurança de todos. Ajustam-se horários, rotinas e práticas. Os estudantes estão eufóricos por se encontrarem novamente, mas ao mesmo tempo, frustrados porque as regras mudaram. Contatos físicos são proibidos. Compartilhamento de materiais, também. Em algum momento teremos que resgatar a solidariedade e empatia da e na escola... mas esse será apenas mais um desafio pós pandemia. As diferenças de aprendizagem se apresenta, gritantes e desafiadoras. Outra vez perguntamos: O que estamos ensinando? O que os estuantes estão aprendendo? Pra que serve a escola? É preciso reaprender a se relacionar presencialmente. Isso vale para os estudantes e demais atores da escola. O comportamento parece ser - neste momento - foco de atenção emergencial. 

Esta escola segue as mesmas orientações das escolas anteriores; e

5) a partir de novembro de 2021 direciona-se, agora sem que as famílias possam optar por uma forma ou outra, para o retorno presencial daquela que não pode mais voltar a ser ‘a velha escola’, a esta chamo: Escola do Hoje. Esta escola não é mais a escola do possível, dos ajustes, das tentativas. Essa é a escola do presente. Muito poderia ser dito sobre ela. Mas seus impactos, potencias, dificuldades e lacunas ainda não se fizeram visíveis. Isso é tema para pesquisas nos próximos anos (2022, 2023 etc.). Mas essa escola não é mais a mesma de 2019. Nela as tecnologias não podem mais ser esquecidas, deixadas de lado ou proibidas. As práticas precisam ser revistas e revisitadas. Pergunta-se pela escola do amanhã!
Esta escola que segue os outros documentos citados neste post e mais os dois pareceres a seguir:
Ao chegar ao final deste texto fiquei me perguntando (já viram que adoro perguntas) se essa quinta escola é a Escola de 2022 ou se a escola do ano novo já vai ser uma sexta... Bem, acho que esse será um tema de um post no futuro. 

Por enquanto deixo aqui um poema de Paulo Freire que nos faz pensar.

Fonte: https://tiaeron.files.wordpress.com/2012/04/escola.jpg Acesso em: 12 ago 2021.

Nos encontramos em breve!
E lembrem-se: a pandemia não acabou!
Abraços,
Dani





sexta-feira, 10 de setembro de 2021

13 Remessas de Estudo: o que são e a 'crise na escola' - entrelaçamentos (Parte II)

 Olá pessoal, tudo bem?

Terminei meu post anterior com uma provocação será que todos os desafios que foram colocados para as escolas pela COVID 19 foram os responsáveis pela 'CRISE' da educação brasileira? Será que a crise da educação é algo novo? 

Na minha Tese de Doutorado, intitulada "A Vida", "O balão" e "O pássaro": análise de uma política de formação de leitores na perspectiva inclusiva, defendida em 2019, no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Caxias do Sul - PPGEDU/UCS, escrevi sobre a crise a partir da perspectiva de uma pesquisa de campo (empírica - que significa que realizei visitas a escolas e entrevistas com os sujeitos da pesquisa):


Escrever que a escola está em crise é algo óbvio, e isso não é novo. Mas, quando vamos a campo, não podemos deixar de lado a compreensão sobre o contexto no qual nossos interlocutores estão inseridos, porque isso também interfere nas respostas produzidas por eles, nas situações de enunciação. E veja que nem trouxe ainda nesta parte do capítulo, como mais um ponto de tensão para a escola, reflexões sobre a escolarização de pessoas com deficiência nas classes regulares de ensino que, até 2018 (não me arrisco a dizer que permanecerá da mesma forma nos anos subsequentes), tem sido a perspectiva que orienta as políticas públicas para e educação no Brasil (desde 2008). Ao fazer isso [...] outras variáveis entram no processo: a formação de professores na perspectiva inclusiva; a acessibilidade arquitetônica das escolas; a acessibilidade de informação e comunicação; o apagamento do leitor com deficiência das práticas de leitura nas escolas. (REAL, 2019, p. 242).

Escrevi sobre algo que tem permeado os debates sobre a educação no Brasil, a chamada crise da educação e ainda destaquei as desigualdades que ela evidencia quando o foco são os estudantes com deficiência na citação acima. E destaco algumas variáveis que operam de forma a aumentar o 'abismo social da educação' entre as diferentes classes sociais e redes de ensino. Neste debate eu inseriria hoje, em setembro de 2021, o APAGAMENTO da educação para os estudantes com deficiência durante a pandemia da COVID -19. Algo que problematizei em dois vídeos sobre os Pareceres do Conselho Nacional de Educação (CNE). 

**Os dois vídeos estão acessíveis em LIBRAS!

Vídeo 1: Pandemia e Educação Especial: o Parecer nº 5 do Conselho Nacional de Educação

Acesso em: 06 set 2021. Duração: 17'39.

Vídeo 2: Inclusão: a polêmica do Parecer nº 11 do Conselho Nacional de Educação

Acesso em: 06 set 2021. Duração: 25'34.


*Em desenvolvimento!

Ainda na Tese escrevi que sabia as escolas públicas do RS, do Brasil em geral, passavam por uma série de dificuldades, como falta de verba, de profissionais; atrasos nos salários, precariedade de material didático e de uso diário, etc. e que tudo isso implicava na chama crise da escola. Isso antes ainda da COVID-19.


sexta-feira, 6 de agosto de 2021

12 Remessas de Estudo: o que são? (Parte I)

Olá pessoal, tudo bem?

Hoje começo minha postagem retomando algo que prometi na postagem do dia 16 de julho de 2021 - 11 Uma turma virou três e o/a professor/a não trabalha!!!!!????: contar um pouco sobre o material que cada professor/a produziu para sua/s turma/s, usando como exemplo a Turma 51/2021 (e suas múltiplas dimensões), turma de uma escola pública aqui de Caxias do Sul na qual já me sinto em 'casa'! 

Talvez você não saiba, mas além desta escola que conhecemos, presencial, com aulas diárias, sempre existiram outras formas de estudar e de se qualificar. Na década de 1900 e lá vai bolinha no Brasil, algumas experiências de educação a distância (EAD) foram iniciadas - ainda que não tivessem esse nome. Em 1941, o Instituto Universal Brasileiro passa a oferecer cursos profissionalizante, supletivos e técnicos em diversas áreas. Cursos que podiam ser cursados em casa. Dá uma olhadinha na imagem abaixo pra você ver quais os cursos eram oferecidos pelo IUB e como era o material de divulgação.

Os cursos eram oferecidos (e continuam sendo) a distância, ou seja, as pessoas interessadas estudavam quando e onde quisessem, através de material apostilado ou online. No curso apostilado, o material era entregue em sua casa pelos Correios e no curso online (cursos mais atuais), você recebe os dados de acesso (login e senha) por e-mail. Já imaginou receber pelos Correios todo o material que você precisasse para estudar?  Tudo chegava numa caixa, igualzinha a essa da foto a seguir.

Mas não pense que era só receber o curso para conseguir o certificado. Ao concluir um curso era necessário fazer o exame final para receber seu certificado de qualificação (para os cursos profissionalizantes) ou certificado oficial (para os cursos Técnicos e Supletivo Oficial). E se não tivesse estudado bastante? Simples, não era aprovado/a no curso!


Se você quiser saber mais sobre a história da EAD no Brasil sugiro a leitura da Aula 3 - Histórico da EAD no Brasil, da professora Silvane Guimarães Silva Gomes. da E-Tec Brasil, disciplina Tópicos em Educação a Distância. Um destaque importante: a EAD no nosso país teve sua legalização apenas em 1996, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9493/96. Se quiser saber mais sobre a legislação fica a dica do artigo Regulamentação da EAD no Brasil: tudo que você precisa saber.

Vale dizer que outras formas de estudar em casa eram mediadas pelo rádio e/ou televisão (ainda na década de 196). Sendo que o primeiro curso oferecido pela televisão foi ao ar em 1961, pela TV Rio e tinha como foco a alfabetização de adultos. E, após a implementação da Lei nº9394/96 foi lançado o Telecurso 2000 um programa educacional a distância dirigido a jovens e adultos que pretendiam cursar os Ensinos Fundamental e médio (antigos primeiro e segundo graus).

Você pode estar se perguntando sobre a minha intencionalidade ao escrever sobre a EAD se o objetivo deste post é falar sobre as remessas de estudos que as escolas precisaram enviar para os estudantes quando foram fechadas para o ensino presencial, por causa da Pandemia da Covid 19, no inicio de 2020. Calma, já me explico!

Minha intenção com essa - MUITO - breve contextualização é dizer que nós professores/as, estagiários/as e residentes pedagógicos não tivemos que inventar a roda da educação. Faço aqui uma analogia em relação a essa tecnologia (a roda) inventada por volta do ano 3500 AC lá na Mesopotâmia e a escola. O que tivemos que fazer foi revisitar o que já existia ajustando as especificidades da escola e dos estudantes do século XXI. Simples? Não. Fácil? Não. Indolor? Não mesmo. Porque muitas variáveis atravessaram as diferentes realidades das escolas brasileiras, públicas e privadas e deram ainda mais evidência as desigualdades sociais que impactam nas redes de ensino. Mas isso é papo para outro post!

Retomo aqui aquilo que foi chamado de 'remessas de estudos' que tiveram, também, que ser reorganizadas considerando as diferenças dos grupos e das interações. Mais uma atividade inserida na rotina dos/as professores/as que já 'não tinham muito o que fazer' durante a pandemia. Essas remessas eram muito mais do que Planos de Ensino ou Planos de Aula. Elas precisavam ser divertidas, interativas e ter conexão entre os conteúdos. Começamos com remessas impressas e entregues aos pais e/ou responsáveis legais pelos estudantes em dias específicos na escola. *Lembre que falo da experiência que tive em uma escola pública de educação básica aqui em Caxias do Sul. Pode ser que na sua realidade tenha sido diferente!

O problema é que nem todos os pais e/ou responsáveis legais buscavam esses materiais na escola ou o devolviam preenchidos nos prazos estipulados. Esse é mais um tema para post aqui no Blog. E os primeiros materiais produzidos estavam muito próximos daquelas primeiras apostilas disponibilizadas pelo IUB e ou de pequenas adaptações de conteúdos dos livros didáticos. O que significa que não eram lá muito atrativos para os estudantes. Mas mais do que isso, os estudantes em suas casas não davam conta de realizar as atividades sem a mediação de um adulto... O que fez com que muitos pais, mães, avós, avôs, irmãos e irmãs mais velhos/as se tornassem uma espécie de 'tutores/as' da educação. Porém, isso também não foi algo simples de se fazer e em pouco tempo acompanhar os estudantes se tornou mais um 'problema' causado pela pandemia. Muitos adultos diziam que era:

Consegue perceber quantos desafios e, ao mesmo tempo, possibilidades são colocadas quando precisamos pensar nos materiais que serão enviados para os estudantes em quanto as aulas presenciais não puderem ser retomadas?


Olha só, independente de sua resposta acho que podemos fazer um combinado. Você fica pensando um pouco mais sobre o assunto e a gente volta a conversar sobre as remessas de estudo no meu próximo post. Combinado?! Ótimo! Deixo uma provocação final: será que todos os desafios que foram colocados para as escolas pela COVID 19 foram os responsáveis pela 'CRISE' da educação brasileira? Não vou dar spoiler, mas voltaremos a este assunto em breve!

Abraços,

Dani

sexta-feira, 16 de julho de 2021

11 Uma turma virou três e o/a professor/a não trabalha!!!!!????

 Olá pessoal, tudo bem?

Hoje, venho aqui para começar uma certa despedida. Não da escola, não da Residência Pedagógica, mas da Turma 51/2021 que me recebeu como residente e estagiária desde fevereiro deste ano. Para que você, que vem me acompanhando aqui no Blog, possa entender é preciso dizer que a turma foi dividida em 3. Explico: por causa da pandemia (da COVID-19) as escolas adotaram protocolos sanitários de segurança que limitavam a ocupação dos espaços nos momentos presenciais que, só começaram a acontecer novamente, a partir de 03/05 e de forma escalonada, como você pode ler na matéria Rede Municipal de ensino retoma as aulas presenciais segunda (03.05).

Isso significa que as famílias dos estudantes puderam escolher se: retornavam para as aulas presenciais, com horários e turmas reduzidas e escalonadas ou se preferiam que os estudantes continuassem em casa com o ensino remoto. E significa também, que nem todos/as poderiam retornar!

A Turma 51/2021 é composta por 25 estudantes e neste primeiro momento de reabertura para aulas presenciais na escola, três grupos foram organizados. Destes, dois grupos optaram pelo retorno a escola e foram denominados Grupos 1 e 2 e um terceiro grupo optou por não retornar, grupo chamado de Ensino Remoto. Daí a explicação sobre a divisão da turma em 3. Três grupos de estudantes com velocidades de ensino e de aprendizagem diferentes, integrantes de uma mesma turma que - agora era na verdade 3! 

Observe que o que quero dizer com isso é que o Planejamento até poderia ser o mesmo, mas sua execução, periodicidade, didática e avaliação não mais correspondia ao trabalho de uma Turma/série. Era preciso manter o contato com quem estava em casa a cada semana de escalonamento, com os que estavam direto em casa (que optaram pelo ensino remoto) e, ainda, com aqueles/as que estavam indo a escola a cada 15 dias. Escola que agora tem toda uma outra forma de se organizar. Sem contato entre os colegas, com distanciamento entre as carteiras e cadeiras, sem trocas de materiais, sem empréstimos de livros da biblioteca, sem recreio... 

Essa 'outra' 'nova' escola que teve que se adaptar as restrições e, ao mesmo tempo, as possibilidades de retorno ao ensino presencial nos colocou: pais, responsáveis legais, estudantes, professores/as, direção da escola e coordenação, outra vez, frente ao inesperado. E, para aqueles/as que ainda acham que professor/a não trabalha eu perguntaria: O que você faria se tivesse - com a mesma carga horária em seu contrato e com o mesmo salário - que trabalhar com cada turma da qual é regente e/ou professor/especializado dividida em três? O que significa que cada turma se multiplicou por 3! 

Não vou aqui entrar no mérito sobre o que é justo ou não. Mas vou enfatizar a necessidade de imediato reconhecimento de que o/a professor/a durante a pandemia teve que trabalhar, assim como a direção da escola e a coordenação, muito mais do que no período anterior a ela. E isso continua até o momento em que escrevo esta postagem (julho de 2021). A charge a seguir, de Jaime Guimarães, ilustra de forma crítica o que problematizo aqui.

Fonte: http://grooeland.blogspot.com/2020/04/pandemia-e-educacao-distancia-faz-de.html Acesso em: 15 jul 2021.

Analisando objetivamente a charge vemos uma professora sendo cobrada por pais, mães, responsáveis por acompanhar os estudantes em casa. Atendendo a todos/as, inclusive seus alunos/as que tem dificuldades para acessar as mídias e ambientes virtuais de aprendizagem para além do alfabetismo ou analfabetismo digital... há que se considerar outros fatores como acesso a internet e, mesmo, aos equipamentos como celulares e computadores, por exemplo. Além disso ela é, ao mesmo tempo, mãe, filha, esposa ou companheira de outra pessoa. Isso sem falar em todas as outras coisas que envolvem a rotina de casa e do trabalho que agora se misturam nos mesmos espaços e tempos.

E,

Ainda assim...

Tem gente que acha que professor não trabalha!!!!

Na charge seguinte, que leva o título de Incoerências dos hipócritas!, Genildo Ronchi, problematiza esse entendimento e nos permite outras análises... Num país dividido por questões políticas há certa tendência em polarizar as posições, sem uma análise reflexiva, crítica e ética. Tal como a situação retratada na charge abaixo. Parece que ficou mais fácil julgar sem, sequer, conhecer o contexto...

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhU8e5dPA25_7-nGc0p0PyHljNtjO1xoWpFVea3xwrw_IC_UWb_C8QkqXByi_5UQ0YPFNzDH7p4wZzH6f5hRCXGdI0FhC0h8aciRPlX9ox34gPpQSCa4s7wKBimzKfeccWfv-EdUWRo5Pw/s400/proffffeeeeaabb.jpg Acesso em: 16 jul 2021.

Não vou escrever a minha interpretação da charge, deixo como provocação...

Veja que comecei escrevendo a você sobre uma despedida neste texto. Despedida da Turma 51/2021 e acabei explicando um pouco sobre como as escolas tiveram suas turmas multiplicadas em plena pandemia sem que os recursos - aqui incluo também os recursos humanos - também se multiplicassem. A Turma 51/2021 virou Turma 51/2021 Grupo 1, Turma 51/2021 Grupo 2 e Turma 51/2021 Ensino Remoto. Mas a professora regente e eu (residente pedagógica e estagiária) continuamos sendo apenas uma pessoa (cada)! Agora imagine isso multiplicado pelo número de professoras e professores de cada escola e pelo número de turmas? Pense nos impactos para a gestão, administração e coordenação pedagógica? E os demais colaboradores que precisam manter a escola limpa e segura? Trata-se de um crescimento exponencial de demandas que não tem recebido da mídia e de muitas pessoas, a atenção necessária! 

Não estou dizendo que você pensa desta forma. Nem culpando nenhuma turma por isso. Sem nossa licença esta foi (e é ainda) a realidade que estamos enfrentando nas escolas. Como vamos resolver? O que estamos perdendo e/ou ganhando com isso? Não quero ser clichê - mas só o tempo vai dizer! Agradeço por fazer parte de uma escola e de uma instituição de ensino superior (a UCS) que reconhece esta situação e age para minimizar e controlar os danos. Ambas sendo acolhedoras e solidárias com todos os/as profissionais que lutam pela qualidade da escola pública - para todos e todas - todos os dias!

Vou finalizando por aqui esta postagem e prometo que na próxima conto um pouco sobre o material que cada professor/a produziu para sua/s turma/s, usando como exemplo a Turma 51/2021 (e suas múltiplas dimensões), turma de uma escola pública aqui de Caxias do Sul na qual já me sinto em 'casa'! Falo sobre as chamadas 'remessas' que tiveram, também, que ser reorganizadas considerando as diferenças dos grupos e das interações. Mais uma atividade inserida na rotina desses/as professores/as que já 'não tinham muito o que fazer'!

Bem como, insiro minha despedida formal das Turmas 51/2021 (vou chamar assim porque agora são 3 grupos - só pra deixar registrado) porque meu estágio foi concluído e, como residente, preciso aproveitar outras oportunidades de aprendizado e formação que a escola nos coloca. Aliás, esse é um dos diferenciais entre o estágio obrigatório - que tem um tempo definido e funções específicas para seu desenvolvimento - e a Residência Pedagógica que nos permite conhecer um pouco mais sobre como é a escola no seu dia a dia, para além da sala de aula e da regência!

Se quiser deixe seu comentário que a gente segue dialogando. 

;)

Nos vemos em breve!

Abraços,

Dani

segunda-feira, 28 de junho de 2021

10 O Pequeno Príncipe e uma segunda-feira especial

 Olá pessoal, tudo bem?

    Hoje venho aqui contar sobre algo que aconteceu esta semana. Aliás, hoje mesmo, dia 28 de junho de 2021. Na escola onde atuo como residente, as aulas presenciais retornaram em maio, com turmas divididas em grupos que frequentam as aulas de forma escalonada. O que significa que uma turma de 25 ou 26 estudantes acabou se dividindo em 3. Três grupos de estudantes que ora estão em casa, ora na escola ou ainda, que permanecem em estudos monitorados já que o retorno as atividades presenciais não é obrigatório neste momento. Sobre essa nova configuração de cada turma (que se transforma em turmas) falarei em outra postagem.

    O que quero contar é da ordem da surpresa, do inesperado, daquilo que aquece o coração, acalenta a alma e faz você ter certeza de que quer mesmo ser uma professora da educação básica (mesmo que duvidasse de sua capacidade de fazer isso bem). Falo de algo que muitos/as professores/as desejam (mesmo que não admitam), mas que não esperam que aconteça. Muito pelo contrário. Num tempo onde os professores e professoras estão sento extremamente cobrados pela sociedade em geral, julgados, e, muitas vezes, rotulados como 'profissionais que não querem trabalhar' por causa da COVID-19, ouvir algo positivo, ler e/ou receber algum presente do nada, sem data comemorativa aquece também a alma. E quando isso tem origem em uma criança, um pequeno, quase pré-adolescente menino, esse gesto assume contornos ainda mais especiais. 

    Eu fico com a pureza da resposta das crianças...

    Mas para chegar ao dia de hoje preciso explicar alguns fatos anteriores. 1º) Iniciei na Residência Pedagógica em outubro de 2020, com a Turma 51/2020 e a professora Ângela (uma turma de 5º ano); 2º) O ano letivo de 2020 estava praticamente sendo encerrado sem contatos presenciais com  o grupo de estudantes e, naquele momento, eu tinha duas funções na escola. Uma que era da ordem do estágio obrigatório nos anos iniciais do ensino fundamental e outra, que dizia respeito as horas destinadas ao trabalho como residente. Isso fez com que meu estágio - com todas as suas especificidades, não pudesse ser concluído ainda em 2020 porque faltariam horas para o exercício da regência de turma. Está conseguindo me acompanhar até aqui?


   Agora avançamos no tempo e já estamos em 2021. Em fevereiro as atividades não presenciais da escola são retomadas e sigo com a mesma professora regente e uma nova Turma 51, agora identificada como Turma 51/2021. Novos estudantes, novas habilidades e competências e uma trajetória de ensino totalmente na modalidade remota para este grupo, cursada no 4º ano fora da normal (do antes conhecido - e talvez já superado - normal). Não vou abordar as perdas e ganhos para todos os estudantes em relação ao ano letivo de 2020 - totalmente atípico - e o caos colocado na e para a escola e para as famílias por causa dos procedimentos adotados pelos Governos Federal, Estaduais e Municipais com vistas ao controle da pandemia. Objetivamente, no ano passado (que muitos dizem ter sido um ano que não existiu nos moldes do que conhecíamos como normal), a escola (e aqui foco na escola, mas o mundo todo em todas as áreas) teve que se reinventar para dar conta, com a qualidade possível, daquilo que era possível ensinar!!!! 

   Longe do ideal (reconhecemos) os atores da escola buscaram alternativas para proporcionar um ensino de qualidade para todos/as. Não tivemos tempo para os ajustes. Não fomos preparados para esta outra realidade. Neste tempo/espaço que se colocou como alternativa fomos impelidos a agir com ética e coerência na intenção de preservar nossos estudantes e fomentar sua aprendizagem. Se conseguimos ou o que conseguimos é algo para mais tarde. A formação em nível superior, principalmente nas licenciaturas, sofreu um grave impacto porque as práticas correspondentes aos estágios obrigatórios também precisaram ser revistas, flexibilizadas e reinventadas. E tivemos também que lidar com está situação.

    Por sorte, com a segunda turma 51 consigo me inserir de forma mais efetiva na elaboração das remessas (material que é enviado para os estudantes para o ensino remoto e cujo conteúdo corresponde a duas semanas de aulas), participo de reuniões de planejamento na escola, de incontáveis trocas de mensagens com a professora regente da Turma 51/2021, participo dos encontros síncronos com os estudantes e me sinto, de verdade, uma estagiária/residente. Tenho contato com os pais e responsáveis pelo acompanhamento dos estudantes e me sinto incluída, mais ainda do que em 2020, com certa hipertrofia de ego, ajo como uma profissional da escola (me sinto parte dela). Até e-mail institucional já tenho e logo o tão sonhado acesso a sala de aula do Google (Classroom).

    Solidária e generosamente, a professora Ângela partilha sua experiência comigo. Me deixa assumir certo protagonismo com a turma, numa docência compartilhada que reconhece nossas diferenças, as legitima e percebe nelas possibilidades de aprendizagem não verticalizada. Numa perspectiva sistêmica, vamos tecendo essa outra forma de pensar as remessas e de fazer as interações com os estudantes. Não mais de forma emergencial (como foi ano passado). A equipe diretiva da escola nos orienta e, com muita paciência, propõe alternativas e práticas que ajudam e apoiam o outro fazer docente que nos foi colocado intempestivamente pela pandemia. Sobre as estratégias da escola vou escrever também, em breve. Vale um post isolado!

    Uma coisa eu e Ângela tínhamos em comum em relação a Turma 51/2021: nós não conhecíamos os estudantes. Por isso, fomos desvendando-os, conhecendo-os e nos apaixonando por eles e elas ao mesmo tempo. Acho que a Turma 51/2021 também merece uma postagem só dela! Fica como mais uma promessa de texto. Bem, já ia eu me perdendo no post que está ficando gigante... sem contar o porque de escrevê-lo hoje (28 de junho de 2021). Vamos aos fatos.

    Na semana passada não pude entrar na escola porque tive uma alteração na temperatura identificada na chegada e revisada com dois termômetros diferentes. A medição de temperatura é um procedimento padrão, entre outros tantos, que visam garantir a saúde de todos na escola e que tem sido seguido a risca na minha (dá pra ver que já me sinto em casa na escola). Fiquei uma semana sem ir presencialmente as aulas até ter certeza de que não estava com COVID. Isso aconteceu ao mesmo tempo em que tive que me mudar de apartamento, de uma hora para outra. Ou seja, momento de muita tensão e estresse.

    Foi então que um estudante da Turma 51/2021 me avisou pelo whats que tinha feito uma surpresa para mim e que iria levá-la na próxima semana (esta, que começou hoje). Na correria, agradeci, mas não lembrei mais disso. Até que nesta segunda-feira, cheguei na escola. Só pra aumentar o suspense vou dizer que era dia de conselho de classe, então na primeira metade da manhã nem cheguei na porta da sala da nossa aula. E, nos atropelos da rotina escolar e pela expectativa de participar do meu primeiro conselho de classe (de verdade como residente), não lembrei da anunciada surpresa.

    Na sequencia da manhã, após o momento do lanche, finalmente, entrei na sala da turma e, sobre a mesa, havia uma caixa lilás com vários corações e estrelas pintados a mão na cor vermelha. Tinha meu nome nela e eu pude ler: Profe Dani, a melhor. 

  

  A caixa surpresa também estava assinada, mas nem precisava porque imediatamente lembrei da mensagem do whats. Não pude esconder meu sorriso. Foi como se a segunda-feira fria, 3 graus marcava o termômetro do celular, tivesse se iluminado e aquecido. O autor me disse: - Espero que goste profe Dani! Respondi: - Já gostei! Morrendo de curiosidade pra saber o que tinha dentro. Mas sei que se abrisse a caixa ali, naquela hora, ia atrapalhar a dinâmica da turma (conheço a 51/2021). Avisei em voz baixa: - Vou abrir em casa e envio áudio ou vídeo comentando. Ok?! Ele respondeu: - Mas manda mesmo! Prometi. O sinal tocou e a aula de hoje foi encerrada. Os estudantes se despediram e retornei pra casa.

    Ao chegar, fiz os procedimentos necessários a quem regressa da rua: trocar a roupa, banho, higienizar os materiais que estavam comigo e -FINALMENTE - abri a caixa. Novamente o texto escrito: - Profe Dani, espero que goste! E um coração. Folhas de caderno rasgadas com textos que ainda não consegui juntar, como peças de quebra-cabeças que tem uma mensagem (gosto de acreditar que tem), ainda para ser decifrada. Três cartas (guardadas e bem escondidas entre as peças de quebra-cabeças de papel). Não ouso anunciar aqui todo seu conteúdo (são minhas, se conforme). Dois desenhos lindos. Um envelope com um jogo da velha feito por ele. Um chaveiro. Um bonequinho do papai noel. Uma pulseira ou anel de missangas. O livro do Pequeno Príncipe de Saint_Exupéry... E alguns elogios que reproduzo aqui porque são o que há de mais especial pra mim : "Você é uma das professoras mais engraçada, tagarela e simpática que eu já tive! A profe!". Veja bem, depois de tudo isso ele ainda tem dúvidas de que gostei?! Gostei sim, e muito! O que mais posso querer?! 

    E para aquelas/es professoras e professores que como eu são surpreendidos por  seus/as alunos/as sem aviso prévio eu digo: há esperança pra nós!

    Finalizo esta postagem deixando aqui o meu muito obrigado a este pequeno príncipe que alegrou minha semana e aqueceu meu coração!!

    #pormaissegundasassim

quinta-feira, 3 de junho de 2021

9 Possibilidades do educar: o redesenho das práticas na Residência Pedagógica pensando fora da caixa

 Olá pessoal!

Espero encontrá-los/as bem.

    Vou tentar nesta postagem finalizar algo que iniciei com a publicação de 03 de março de 2021, 6 Redesenhando as possibilidades do Educar em Tempos de Covid -19: atravessamentos e possibilidades para a Residência Pedagógica, quando conversei com você sobre algumas questões que se colocaram como desafios para as práticas dos residentes (da Residência Pedagógica), desde 2020 (e que permanecem em 2021) por causa da pandemia. Questões que exigiram uma reorganização e, consequentemente, uma reinvenção da escola e da educação). É uma espécie de tentativa de conclusão de ideias que foram sendo coloridas, aos poucos, ao longo das práticas na Residência Pedagógica.

Entendo a prática pedagógica como prática social que se organiza a partir da definição de objetivos, finalidades e conhecimentos, que toma o processo de ensino-aprendizagem como algo que pode se dar em diferentes espaços, desde que conduzida por um profissional que esteja preparado para lidar com uma prática pedagógica sistematiza ou não.

 

Surge daí a necessidade de um mediador que fosse capaz de formar esses profissionais, relacionando a teoria com a prática. Esse mediador teria que saber lidar com a prática de ensino, sem deixar de lado seu caráter humano, sua preocupação com o sujeito. E esse profissional não podia ser ninguém mais que o pedagogo (NASCIMENTO et al, 2010, p. 62).

 

Sob essa ótica é preciso referendar o papel social e transformador do pedagogo para além da escola. Nessa nova geografia, o lugar da educação tem seus territórios e fronteiras ampliados e se articula na premissa de que estamos constantemente aprendendo e ensinando. Trago uma frase de Paulo Freire que nos ajuda a pensar sobre essa dimensão do ensinar e do aprender com alegria, o que corresponde, em articulação com a metáfora que escolhi para a organização da escrita deste texto – em minha opinião - a redesenhar e colorir. Freire escreveu: “A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria”. A alegria das cores que vão sendo agregadas ao texto e a dimensão da prática pedagógica do pedagogo nos diferentes espaços incorporam as transformações contemporâneas que vem contribuindo para o entendimento da educação como um fenômeno multifacetado e que ocorre de várias formas (e cores).

Fonte: https://designcomcafe.com.br/wp-content/uploads/2020/11/paleta-de-cores-cores3.jpg Acesso em: 03 jun 2021.

Mas como essas cores vão sendo agregadas ao texto nesse redesenho? De acordo com Nascimento et al (2010), o fazer pedagógico em espaços não escolares se relaciona às atividades que envolvem trabalho em equipe, planejamento, formação pessoal, orientação e coordenação, mas não se restringem a isso. Nesse sentido o pedagogo precisa conhecer estratégias para lidar com estudantes com diferentes condições de acesso ao material fornecido pela escola em tempos de pandemia, ter facilidade de comunicação, ser criativo, inovador e propositivo, características que já faziam parte de suas atividades na escola e que agora assumem outros contornos enquanto possiblidade de práticas em espaços não-escolares (formais). Da mesma forma que ocorre na escola, toda a atividade do pedagogo em outros espaços envolve um (ou mais) objetivo/s, uma (ou mais) intencionalidade/des. O que significa que

 

O pedagogo gerencia mais do que aprendizagens, gerencia um espaço comum, o planejamento, a construção e a dinamização de projetos, de cursos, de materiais didáticos, as relações entre o grupo de alunos ou colaboradores. Isso significa que não basta possuir inúmeros conhecimentos teóricos sobre determinado assunto, é preciso saber mobilizá-los adequadamente (FRISSON, 2004, p. 89).

 

Esse fazer reconfigurado, REDESENHADO só é possível ao pedagogo porque sua formação é sistematizada, orgânica e global e tem como objetivo a formação de sujeitos humanizados e emancipados. Mas não existem receitas em relação ao modo de fazer as intervenções nos espaços não-escolares, cabendo ao profissional escutar as demandas, avaliar a realidade de cada estudante e propor possibilidades de práticas com vistas a resolução de problemas identificados.

E por que não existem receitas/manuais? Essa é uma pergunta que pode parecer óbvia, mas não é. Porém, ainda assim, a resposta é simples. Porque cada estudante tem características próprias e demandas especificas que precisam ser consideradas em cada proposta de ação. Trata-se de uma complexificação do trabalho do pedagogo cuja abrangência se modifica. Algo que Tardif (2003) já trouxe em seu discurso ao relacionar a variedade de saberes necessárias ao pedagogo em relação a diversidade de sua atuação.

Já estou me acostumando a escrever pra você sobre as minhas experiências e rotinas na Residência. Logo apareço por aqui de novo para atualizá-lo/a sobre o que aconteceu de novo na escola. Pode esperar! Tenho muito ainda pra contar...



Um abraço fraterno virtual,

Dani


segunda-feira, 3 de maio de 2021

8 Cada cor em seu lugar

 Olá! Tudo bem?

    Sou eu de novo por aqui tentando colorir um pouco as possibilidades de práticas na Residência Pedagógica. Acho que preciso deixar algumas coisas mais claras.

Estou escrevendo a você de um lugar específico (uma cor definida). Falo de uma prática na Residência Pedagógica que está sendo realizada em uma escola municipal de Caxias do Sul/RS, localizada no bairro Petrópolis, com estudantes do 5º ano do Ensino Fundamental I, desde outubro de 2020. Prática essa que teve que ir sendo ajustada de uma proposta de Ensino Remoto Emergencial (ERE) para uma modalidade de ensino que não tem um nome consensual entre os teóricos, mas que pode ser entendida descrita, de acordo com Moran (2015) como educação híbrida (misturada). Na verdade, para o autor a educação sempre foi misturada porque combinava espaços, tempos, atividades, metodologias e diferentes atores sociais (p. 27). Moran escreveu que a mistura mais complexa é aquela que integra o que vale a pena ensinar e o que vale a pena aprender, para que e como fazê-lo. Essas são perguntas que orientam hoje nossas práticas enquanto residentes. O que deve ser ensinado durante a pandemia? Para que? Como fazê-lo? Parece complicado...

Gosto de trazer Freire para os textos que escrevo sobre educação porque ele sempre nos provocou a refletir sobre uma formação emancipatória, reflexiva e crítica que tinha (e deve ter sempre) como ponto de partida, o reconhecimento do outro como legítimo na sua diferença, o entendimento de que a leitura de mundo precede a leitura da palavra e que cada sujeito precisa ter sua memória enciclopédica reconhecida e valorizada. O autor nunca escondeu o fato de que aquele que se prepara para a tarefa docente sabe que – necessariamente – precisa estudar muito. E, ainda que ele não tenha escrito um manual sobre o assunto – ainda bem, isso não seria nada Freireano- vale dizer que suas produções sempre nos convidaram a elucubrações INfinitas.

No texto Cartas de Paulo Freire aos professores o autor nos convida a refletir sobre a experiência da compreensão que não pode ser resumida a uma dicotomização. Assim como, nos seduz para um exercício crítico exigido pela leitura que passa pela escuta, emerge das experiências escolares e resulta no mundo da cotidianidade. Essa é a experiência da compreensão, que não se esgota numa intencionalidade e que, assim como a leitura de mundo, é subjetiva e sensorial. A partir da metáfora do jarro de barro Freire (2001) nos convoca a refletir sobre a prática que não é tecnicista e perfeita, que traduz na produção de cada educando seu modo de ser, estar e interagir com o mundo. Nem todos farão jarros bonitos. Nem todos conseguirão produzir algo que chamaremos ‘jarros’. Mas todos, de acordo com o autor, tem condições de produzir algo.

Freire vai escrever que o educador, ao refletir sobre os jarros produzidos irá perceber que a teoria emergia molhada da prática vivida, encharcada pelas experiências dos educandos e que isso traria para a discussão a relação entre o viável e o possível. Trocando em letras ele se referia aquilo que era viável na escola a partir da prática colocada como desafio pelo educador e aquilo que era viável de ser produzido pelos educandos.

Aprofundando esse entendimento ele escreveu que era preciso estudar para desocultar e para desocultar era necessário correr o risco, se aventurar e se desafiar. Usando a metáfora das cores e de colorir, que vem perpassando minha escrita ao longo dos capítulos entendo que é o momento de reconhecer que não existe um amarelo só, mas muitos. Assim como muitos vermelhos, magentas, carmins... Essa é a forma de entender educação que orienta as postagens do REDESENHANDO AS POSSIBILIDADES DO EDUCAR EM TEMPOS DE COVID-19 – ATRAVESSAMENTOS E POSSIBILIDADES DA RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA que, em tempos cinzas, de Pandemia,  precisam ser REcoloridos ...