segunda-feira, 28 de junho de 2021

10 O Pequeno Príncipe e uma segunda-feira especial

 Olá pessoal, tudo bem?

    Hoje venho aqui contar sobre algo que aconteceu esta semana. Aliás, hoje mesmo, dia 28 de junho de 2021. Na escola onde atuo como residente, as aulas presenciais retornaram em maio, com turmas divididas em grupos que frequentam as aulas de forma escalonada. O que significa que uma turma de 25 ou 26 estudantes acabou se dividindo em 3. Três grupos de estudantes que ora estão em casa, ora na escola ou ainda, que permanecem em estudos monitorados já que o retorno as atividades presenciais não é obrigatório neste momento. Sobre essa nova configuração de cada turma (que se transforma em turmas) falarei em outra postagem.

    O que quero contar é da ordem da surpresa, do inesperado, daquilo que aquece o coração, acalenta a alma e faz você ter certeza de que quer mesmo ser uma professora da educação básica (mesmo que duvidasse de sua capacidade de fazer isso bem). Falo de algo que muitos/as professores/as desejam (mesmo que não admitam), mas que não esperam que aconteça. Muito pelo contrário. Num tempo onde os professores e professoras estão sento extremamente cobrados pela sociedade em geral, julgados, e, muitas vezes, rotulados como 'profissionais que não querem trabalhar' por causa da COVID-19, ouvir algo positivo, ler e/ou receber algum presente do nada, sem data comemorativa aquece também a alma. E quando isso tem origem em uma criança, um pequeno, quase pré-adolescente menino, esse gesto assume contornos ainda mais especiais. 

    Eu fico com a pureza da resposta das crianças...

    Mas para chegar ao dia de hoje preciso explicar alguns fatos anteriores. 1º) Iniciei na Residência Pedagógica em outubro de 2020, com a Turma 51/2020 e a professora Ângela (uma turma de 5º ano); 2º) O ano letivo de 2020 estava praticamente sendo encerrado sem contatos presenciais com  o grupo de estudantes e, naquele momento, eu tinha duas funções na escola. Uma que era da ordem do estágio obrigatório nos anos iniciais do ensino fundamental e outra, que dizia respeito as horas destinadas ao trabalho como residente. Isso fez com que meu estágio - com todas as suas especificidades, não pudesse ser concluído ainda em 2020 porque faltariam horas para o exercício da regência de turma. Está conseguindo me acompanhar até aqui?


   Agora avançamos no tempo e já estamos em 2021. Em fevereiro as atividades não presenciais da escola são retomadas e sigo com a mesma professora regente e uma nova Turma 51, agora identificada como Turma 51/2021. Novos estudantes, novas habilidades e competências e uma trajetória de ensino totalmente na modalidade remota para este grupo, cursada no 4º ano fora da normal (do antes conhecido - e talvez já superado - normal). Não vou abordar as perdas e ganhos para todos os estudantes em relação ao ano letivo de 2020 - totalmente atípico - e o caos colocado na e para a escola e para as famílias por causa dos procedimentos adotados pelos Governos Federal, Estaduais e Municipais com vistas ao controle da pandemia. Objetivamente, no ano passado (que muitos dizem ter sido um ano que não existiu nos moldes do que conhecíamos como normal), a escola (e aqui foco na escola, mas o mundo todo em todas as áreas) teve que se reinventar para dar conta, com a qualidade possível, daquilo que era possível ensinar!!!! 

   Longe do ideal (reconhecemos) os atores da escola buscaram alternativas para proporcionar um ensino de qualidade para todos/as. Não tivemos tempo para os ajustes. Não fomos preparados para esta outra realidade. Neste tempo/espaço que se colocou como alternativa fomos impelidos a agir com ética e coerência na intenção de preservar nossos estudantes e fomentar sua aprendizagem. Se conseguimos ou o que conseguimos é algo para mais tarde. A formação em nível superior, principalmente nas licenciaturas, sofreu um grave impacto porque as práticas correspondentes aos estágios obrigatórios também precisaram ser revistas, flexibilizadas e reinventadas. E tivemos também que lidar com está situação.

    Por sorte, com a segunda turma 51 consigo me inserir de forma mais efetiva na elaboração das remessas (material que é enviado para os estudantes para o ensino remoto e cujo conteúdo corresponde a duas semanas de aulas), participo de reuniões de planejamento na escola, de incontáveis trocas de mensagens com a professora regente da Turma 51/2021, participo dos encontros síncronos com os estudantes e me sinto, de verdade, uma estagiária/residente. Tenho contato com os pais e responsáveis pelo acompanhamento dos estudantes e me sinto incluída, mais ainda do que em 2020, com certa hipertrofia de ego, ajo como uma profissional da escola (me sinto parte dela). Até e-mail institucional já tenho e logo o tão sonhado acesso a sala de aula do Google (Classroom).

    Solidária e generosamente, a professora Ângela partilha sua experiência comigo. Me deixa assumir certo protagonismo com a turma, numa docência compartilhada que reconhece nossas diferenças, as legitima e percebe nelas possibilidades de aprendizagem não verticalizada. Numa perspectiva sistêmica, vamos tecendo essa outra forma de pensar as remessas e de fazer as interações com os estudantes. Não mais de forma emergencial (como foi ano passado). A equipe diretiva da escola nos orienta e, com muita paciência, propõe alternativas e práticas que ajudam e apoiam o outro fazer docente que nos foi colocado intempestivamente pela pandemia. Sobre as estratégias da escola vou escrever também, em breve. Vale um post isolado!

    Uma coisa eu e Ângela tínhamos em comum em relação a Turma 51/2021: nós não conhecíamos os estudantes. Por isso, fomos desvendando-os, conhecendo-os e nos apaixonando por eles e elas ao mesmo tempo. Acho que a Turma 51/2021 também merece uma postagem só dela! Fica como mais uma promessa de texto. Bem, já ia eu me perdendo no post que está ficando gigante... sem contar o porque de escrevê-lo hoje (28 de junho de 2021). Vamos aos fatos.

    Na semana passada não pude entrar na escola porque tive uma alteração na temperatura identificada na chegada e revisada com dois termômetros diferentes. A medição de temperatura é um procedimento padrão, entre outros tantos, que visam garantir a saúde de todos na escola e que tem sido seguido a risca na minha (dá pra ver que já me sinto em casa na escola). Fiquei uma semana sem ir presencialmente as aulas até ter certeza de que não estava com COVID. Isso aconteceu ao mesmo tempo em que tive que me mudar de apartamento, de uma hora para outra. Ou seja, momento de muita tensão e estresse.

    Foi então que um estudante da Turma 51/2021 me avisou pelo whats que tinha feito uma surpresa para mim e que iria levá-la na próxima semana (esta, que começou hoje). Na correria, agradeci, mas não lembrei mais disso. Até que nesta segunda-feira, cheguei na escola. Só pra aumentar o suspense vou dizer que era dia de conselho de classe, então na primeira metade da manhã nem cheguei na porta da sala da nossa aula. E, nos atropelos da rotina escolar e pela expectativa de participar do meu primeiro conselho de classe (de verdade como residente), não lembrei da anunciada surpresa.

    Na sequencia da manhã, após o momento do lanche, finalmente, entrei na sala da turma e, sobre a mesa, havia uma caixa lilás com vários corações e estrelas pintados a mão na cor vermelha. Tinha meu nome nela e eu pude ler: Profe Dani, a melhor. 

  

  A caixa surpresa também estava assinada, mas nem precisava porque imediatamente lembrei da mensagem do whats. Não pude esconder meu sorriso. Foi como se a segunda-feira fria, 3 graus marcava o termômetro do celular, tivesse se iluminado e aquecido. O autor me disse: - Espero que goste profe Dani! Respondi: - Já gostei! Morrendo de curiosidade pra saber o que tinha dentro. Mas sei que se abrisse a caixa ali, naquela hora, ia atrapalhar a dinâmica da turma (conheço a 51/2021). Avisei em voz baixa: - Vou abrir em casa e envio áudio ou vídeo comentando. Ok?! Ele respondeu: - Mas manda mesmo! Prometi. O sinal tocou e a aula de hoje foi encerrada. Os estudantes se despediram e retornei pra casa.

    Ao chegar, fiz os procedimentos necessários a quem regressa da rua: trocar a roupa, banho, higienizar os materiais que estavam comigo e -FINALMENTE - abri a caixa. Novamente o texto escrito: - Profe Dani, espero que goste! E um coração. Folhas de caderno rasgadas com textos que ainda não consegui juntar, como peças de quebra-cabeças que tem uma mensagem (gosto de acreditar que tem), ainda para ser decifrada. Três cartas (guardadas e bem escondidas entre as peças de quebra-cabeças de papel). Não ouso anunciar aqui todo seu conteúdo (são minhas, se conforme). Dois desenhos lindos. Um envelope com um jogo da velha feito por ele. Um chaveiro. Um bonequinho do papai noel. Uma pulseira ou anel de missangas. O livro do Pequeno Príncipe de Saint_Exupéry... E alguns elogios que reproduzo aqui porque são o que há de mais especial pra mim : "Você é uma das professoras mais engraçada, tagarela e simpática que eu já tive! A profe!". Veja bem, depois de tudo isso ele ainda tem dúvidas de que gostei?! Gostei sim, e muito! O que mais posso querer?! 

    E para aquelas/es professoras e professores que como eu são surpreendidos por  seus/as alunos/as sem aviso prévio eu digo: há esperança pra nós!

    Finalizo esta postagem deixando aqui o meu muito obrigado a este pequeno príncipe que alegrou minha semana e aqueceu meu coração!!

    #pormaissegundasassim

quinta-feira, 3 de junho de 2021

9 Possibilidades do educar: o redesenho das práticas na Residência Pedagógica pensando fora da caixa

 Olá pessoal!

Espero encontrá-los/as bem.

    Vou tentar nesta postagem finalizar algo que iniciei com a publicação de 03 de março de 2021, 6 Redesenhando as possibilidades do Educar em Tempos de Covid -19: atravessamentos e possibilidades para a Residência Pedagógica, quando conversei com você sobre algumas questões que se colocaram como desafios para as práticas dos residentes (da Residência Pedagógica), desde 2020 (e que permanecem em 2021) por causa da pandemia. Questões que exigiram uma reorganização e, consequentemente, uma reinvenção da escola e da educação). É uma espécie de tentativa de conclusão de ideias que foram sendo coloridas, aos poucos, ao longo das práticas na Residência Pedagógica.

Entendo a prática pedagógica como prática social que se organiza a partir da definição de objetivos, finalidades e conhecimentos, que toma o processo de ensino-aprendizagem como algo que pode se dar em diferentes espaços, desde que conduzida por um profissional que esteja preparado para lidar com uma prática pedagógica sistematiza ou não.

 

Surge daí a necessidade de um mediador que fosse capaz de formar esses profissionais, relacionando a teoria com a prática. Esse mediador teria que saber lidar com a prática de ensino, sem deixar de lado seu caráter humano, sua preocupação com o sujeito. E esse profissional não podia ser ninguém mais que o pedagogo (NASCIMENTO et al, 2010, p. 62).

 

Sob essa ótica é preciso referendar o papel social e transformador do pedagogo para além da escola. Nessa nova geografia, o lugar da educação tem seus territórios e fronteiras ampliados e se articula na premissa de que estamos constantemente aprendendo e ensinando. Trago uma frase de Paulo Freire que nos ajuda a pensar sobre essa dimensão do ensinar e do aprender com alegria, o que corresponde, em articulação com a metáfora que escolhi para a organização da escrita deste texto – em minha opinião - a redesenhar e colorir. Freire escreveu: “A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria”. A alegria das cores que vão sendo agregadas ao texto e a dimensão da prática pedagógica do pedagogo nos diferentes espaços incorporam as transformações contemporâneas que vem contribuindo para o entendimento da educação como um fenômeno multifacetado e que ocorre de várias formas (e cores).

Fonte: https://designcomcafe.com.br/wp-content/uploads/2020/11/paleta-de-cores-cores3.jpg Acesso em: 03 jun 2021.

Mas como essas cores vão sendo agregadas ao texto nesse redesenho? De acordo com Nascimento et al (2010), o fazer pedagógico em espaços não escolares se relaciona às atividades que envolvem trabalho em equipe, planejamento, formação pessoal, orientação e coordenação, mas não se restringem a isso. Nesse sentido o pedagogo precisa conhecer estratégias para lidar com estudantes com diferentes condições de acesso ao material fornecido pela escola em tempos de pandemia, ter facilidade de comunicação, ser criativo, inovador e propositivo, características que já faziam parte de suas atividades na escola e que agora assumem outros contornos enquanto possiblidade de práticas em espaços não-escolares (formais). Da mesma forma que ocorre na escola, toda a atividade do pedagogo em outros espaços envolve um (ou mais) objetivo/s, uma (ou mais) intencionalidade/des. O que significa que

 

O pedagogo gerencia mais do que aprendizagens, gerencia um espaço comum, o planejamento, a construção e a dinamização de projetos, de cursos, de materiais didáticos, as relações entre o grupo de alunos ou colaboradores. Isso significa que não basta possuir inúmeros conhecimentos teóricos sobre determinado assunto, é preciso saber mobilizá-los adequadamente (FRISSON, 2004, p. 89).

 

Esse fazer reconfigurado, REDESENHADO só é possível ao pedagogo porque sua formação é sistematizada, orgânica e global e tem como objetivo a formação de sujeitos humanizados e emancipados. Mas não existem receitas em relação ao modo de fazer as intervenções nos espaços não-escolares, cabendo ao profissional escutar as demandas, avaliar a realidade de cada estudante e propor possibilidades de práticas com vistas a resolução de problemas identificados.

E por que não existem receitas/manuais? Essa é uma pergunta que pode parecer óbvia, mas não é. Porém, ainda assim, a resposta é simples. Porque cada estudante tem características próprias e demandas especificas que precisam ser consideradas em cada proposta de ação. Trata-se de uma complexificação do trabalho do pedagogo cuja abrangência se modifica. Algo que Tardif (2003) já trouxe em seu discurso ao relacionar a variedade de saberes necessárias ao pedagogo em relação a diversidade de sua atuação.

Já estou me acostumando a escrever pra você sobre as minhas experiências e rotinas na Residência. Logo apareço por aqui de novo para atualizá-lo/a sobre o que aconteceu de novo na escola. Pode esperar! Tenho muito ainda pra contar...



Um abraço fraterno virtual,

Dani